sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Jorge Amado...a realidade tangível

 
O romance nordestino iniciado com "A bagaceira", de José Américo de Almeida, criou no Brasil uma escola realista-social, da qual Jorge Amado é uma das figuras mais representativas.Romance de fundo telúrico e ambientação regional, explorou os mitos, as lendas e os preconceitos do Nordeste brasileiro, com tendência sociológica e popular.Usando uma fala de cunho pitoresco e local, e um estilo sem respeito a velha sintaxe, ele trouxe para a literatura brasileira o toque da renovação e de nacionalismo que faltava à narrativa pátria nos últimos anos que procederam a Semana de Arte Moderna de 1922.
  O romance brasileiro caíra em marasmo.Não se repetia a experiencia de "Canaan". de Graça Aranha; temas e personagem vinham de encomenda de Portugal numa linguagem destoante do tropicalismo das terras americanas.O choque da "Bagaceira" foi salutar.Além disso, a pregação modernista de Gilberto Freire(que após o impacto de 1922 levantou em Recife a temática do regionalismo tradicionalista com José Lins do Rêgo, Joaquim Cardoso, Olívio Montenegro, Cícero Dias e tantos outros) repercutiu em terras baianas, por volta de 1928, no tradicionalismo dinâmico do grupo da revista "Arco e flecha" contra o qual, um agrupamento de moços liderados pelo epigramista João Amaro Pinheiro Viegas, fundou a "Academia dos Rebeldes"; foram os intelectuais boêmios da época: Edison Carneiro, Clovis Amorim, Aydano de Couto Ferraz e mais um jovem jornalista vindo da zona do cacau_Jorge Amado_nascido em Itabuna, em 1912.
  A trajetória de Jorge Amado, desde esse tempo, foi das mais brilhantes.Estreou, em 1929, com uma novela que Medeiros de Albuquerque classificou de uma pura abominação e em que colaboraram Dias da Costa e Edison Carneiro_"Lenita" (hoje rejeitada pelo autor, não constando de suas obras completas).Em 1931, publicou o seu primeiro romance de fôlego_"País do Carnaval" em que procurou registrar o drama de uma geração; apesar de imaturo(o autor tinha 19 anos de idade)a obra chamou a atenção da crítica.
  Em 1933, registrou-se a publicação do primeiro livro com que Jorge Amado iniciou seus romances do cacau, tema estudado repetidamente e que representou a pedra de toque de toda a sua obra_"Cacau".Nesse trabalho, foram visíveis as características do narrador baiano: o apego à pintura de quadros regionais e ambiência sexual; a presença da coletividades sofredoras; o pitoresco folclórico; o sabor baiano da fala e do local; o estilo vivo e lírico com poetização dos temas populares e declarada militância na brande linha de humanitarismo, que Miécio Táti bem resumiu em sua biografia a respeito de Jorge.
  Estava lançado JA e com grande aceitação da crítica e do público.Devido ao apaixonado tom social, o livro cuja primeira edição foi de dois mil exemplares, sofreu a apreensão da polícia carioca, sendo liberado depois, por ordem de Oswaldo Aranha, então Ministro do Exterior.A edição se esgotou em um mês.
  Animado, o romancista trabalhou em um novo livro que surgiu à publicidade em 1934: "Suor". Obra de cunho naturalista, focaliza a miséria e a promiscuidade dos casarões da Ladeira do Pelourinho, em Salvador.Livro forte, foi considerado, por Agripino Grieco, mais impressionante que "O Cortiço" de Aluísio Azevedo.
  Em 1935, apareceu "Jubiabá", o romance da cidade negra da Bahia; da sua sua miséria e da sua poesia, do apego libertador do mar.Embora com traços grosseiros, beirando o pornográfico, teve força poética.Seu personagem principal, o negro Baldo, foi considerado êmulo do "Imperador Jones", de Eugene O'Niell.
  "Mar Morto" foi publicado em 1936, história de marinheiros, com intromissão do sobrenatural nos destinos humanos.Romance poético também,entretecido do sofrimento e do amor dos homens do mar.Monteiro Lobato, que considerava "Jubiabá" o ponto culminante da obra de JA, colocou "Mar Morto" acima dele.O livro recebeu o prêmio "Graça Aranha" (melhor do ano).
  Uma história de delinquentes infantis foi representada pelo novo livro de Jorge Amado, publicado em 1937:"Capitães de Areia".
  O ano de 1938 marcou o aparecimento de "A estrada do mar", poemas em edição limitadíssima.
  "ABC de Castro Alves" surgiu em 1941, trazendo importante biografia do vate baiano, circulando, primeiramente, em edição clandestina.
  Voltou Jorge Amado ao tema do cacau com o romance "Terras do Sem Fim"(1942) em que recorda a luta dos poderosos em torno da posse dos latifúndios cacaueiros da Bahia.Este livro prosseguiu em "São Jorge dos Ilhéus" (1944), quando apareceu em cena o primeiro comunista declaradamente militante na figura do motorista Joaquim e o autor revelou toda a sua antipatia pelos homens de negócios substitutos dos coronéis, desbravadores do romance anterior.
  Em 1945, Jorge Amado empreendeu a feitura de um "Guia das Ruas e dos Mistérios da cidade do Salvador"_"Bahia de Todos os Santos"_que foi mais um guia dele com toda a sua personalidade poética e observadora da terra baiana do que mesmo um guia de turistas.Foi dessa mesma época a "Vida de Luis Carlos Prestes, com uma edição argentina em 1942 (clandestinamente vendida no Brasil) depois confiscada pelo governo de Perón.
  A apresentação do problema social do Nordeste foi feita em "Seara Vermelha", livro de 1946.No ano seguinte, Jorge Amado empreendeu sua tentativa no teatro com a peça "O Amor de Soldado" (anteriormente chamada de "O Amor de Castro Alves"),
  Interessado nos problemas do mundo socialista, Jorge Amado viajou ao exterior e publicou, em 1951, "O Mundo da Paz". Nesse mesmo ano, recebeu o "Premio Internacional Stálin".Dentro dessa perspectiva escreveu "Os Subterrâneos da Liberdade", em 3 volumes, primeiro livro de uma trilogia incompleta sob o título de "O Muro de Pedras".
  Em 1958, o romancista retomou ao velho tema do cacau com "Gabriela, Cravo e Canela", um romance de amor e ao mesmo tempo, crônica de Ilhéus.A época foi a mesma localizada em romances anteriores(1925) mas. desta vez o autor a estudou com ternura, retomando a veia poética entrevista em antigos trabalhos.O livro, com uma edição de 20 mil exemplares, esgotou-se em 15 dias.
  A esta altura, Jorge Amado possuía quase toda a obra traduzida para os mais diversos idiomas do mundo e as edições se sucediam.
   
"Os Velhos Marinheiros", reunindo duas novelas pitorescas, apareceu em 1961.
  A 6 de Abril de 1961, Jorge Amado foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, na vaga de Otávio Mangabeira(cadeira 23´patrono, José de Alencar).Nessa ocasião "Gabriela, Cravo e Canela" atingiu a vigésima edição brasileira e a tiragem de 160 mil exemplares.
  Suas edições são procuradas pelo grande público que se agrada do seu linguajar desabusado, suas histórias de marinheiros e vagabundos, de gente sofredora e humilde, de mulatas e praieiros em que se reflete um Brasil autentico onde os problemas sociais assumem caráter próprio.Socialista mais de leitura literária do que propriamente de estudos acurados e refletidos ou de experiência, Jorge Amado é parcial no debate de seus temas e assume, por vezes, militância imcompativel com o sentido rigoroso que o nome do escritor confere ao exato trabalhador dessa difícil arte de narrar.De fato, sendo mais um narrador feliz do que um escritor cujo o estilo seria a realidade suprema e para o qual os temas exigem meditação, escolha e análise, e em que a expressão é que tudo comanda, subordinando a vida à forma (como acertadamente escreveu Olívio Montenegro a propósito de José Lins), Jorge Amado narra com desenvoltura num estilo que tem muito de pitoresco e pouco de expressão literária, de idealização pura.É um grande sensual; expressa-se na força de uma natureza puramente tropical e romântica; seu pensamento reflete o seu mundo de realidades tangíveis.
  Dai, o desataviado do estilo, a qualidade de palavrões  de que recheiam suas narrativas e o apelo que sempre faz ao popular e ao sensitivo.

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