domingo, 12 de novembro de 2017

Grande Sertão: Veredas

Grande Sertão: Veredas é um livro de João Guimarães Rosa escrito em 1956. Pensado inicialmente como uma das novelas do livro Corpo de Baile, lançado nesse mesmo ano de 1956, cresceu, ganhou autonomia e tornou-se um dos mais importantes livros da literatura brasileira e da literatura lusófona. No mesmo ano, Rosa também lançou a quarta edição revista de Sagarana. Em 2006 o Museu da Língua Portuguesa realizou uma exposição sobre a obra no Salão de Exposições Temporárias, cujas fotos ilustram o artigo. Em maio de 2002, o Clube do Livro da Noruega, entidade que congrega editores noruegueses, incluiu Grande Sertão: Veredas em sua lista dos cem melhores livros de todos os tempos - único brasileiro entre 100 escritores de 54 países.


Trechos pendurados de Grande Sertão: Veredas, a obra-prima de Guimarães Rosa, no Salão de Exposições Temporárias do Museu da Língua Portuguesa.
A grandiosidade de Grande Sertão: Veredas pode ser exemplificada pelas interpretações, que a abordam sob os mais variados pontos de vista, sem jamais deixar de ressaltar a capacidade e a confiança do autor ao ser inventivo. Extremamente erudito, Rosa incorporou em sua obra aspectos das mais diferentes culturas. Disse uma vez que “para estas duas vidas [viver e escrever], um léxico só não é suficiente”.
Grande Sertão: Veredas gira em torno do jagunço Riobaldo, também conhecido como Tatarana ou Urutu-Branco, narrador-protagonista do livro. Há na obra dois pontos aos quais o narrador se apega:

Diadorim: um também jagunço com quem Riobaldo estabelece uma relação diferenciada, que se coloca nos limites entre a amizade e o relacionamento afetivo de um casal.

O pacto com o demônio: estabelecendo uma relação de intertexto com a história do Doutor Fausto. A dúvida se o pacto teria se concretizado ou não (afinal, Lúcifer não se faz presente) incomoda o narrador e o leva a questionamentos profundos como a existência do diabo – e, por consequência, de Deus. Por outro lado, tal pacto pode ser atribuído também à Exu, o primeiro Orixá do Candomblé, das Encruzilhadas, local inclusive onde se realizou o pacto, bem com outras divindades indígenas e da cultura cabocla.

A narrativa é construída com acentos e jeitos sertanejos, característica típica do Romance Brasileiro Moderno escrito a partir "da década de 1930. O narrador conta a história a um interlocutor desconhecido, que nunca se pronuncia, a quem ele chama "Senhor, "Moço" ou "Doutor".

Em sua narrativa, intérprete dos segredos das veredas, Riobaldo tece a história de sua vida – um discurso de descoberta e autoconhecimento: revelando o sertão-mundo, revela-se a si próprio, como se dissesse “o sertão sou eu” para reconhecer-se. Nessa perigosa travessia, Riobaldo confronta as forças do bem e do mal, retoma num fluxo de memória o fio de sua vida e narra as grandes lutas dos bandos de jagunços, descreve os feitos e características de diversos personagens e revela os códigos de honra e de procedimentos do sertão.

A narrativa não segue uma forma linear, mas podemos depreender dela muito da história de Riobaldo. Conta ele que depois da morte da mãe, uma mulher pobre que vive como agregada em uma grande fazenda no interior de Minas, passou a morar com seu padrinho, Selorico Mendes. Enquanto vive sob a guarda do padrinho, Riobaldo recebe formação escolar básica pelas mãos de Mestre Lucas, em Curralinho. Ao voltar para a fazenda de Selorico Mendes, conhece o bando de jagunços de Joca Ramiro a quem o padrinho oferece pouso. Dentre eles estão Hermógenes e Ricardão.

Riobaldo vislumbra-se com o "sistema jagunço" e o tempo em que passou entre os homens de Joca Ramiro é fundamental para o resto de sua vida. Mais tarde, perplexo por descobrir que Selorico Mendes provavelmente era seu verdadeiro pai, foge de casa para Curralinho, onde, graças a Mestre Lucas, conhece Zé Bebelo.

Zé Bebelo, que sonha em pacificar o sertão e acabar com os jagunços e em ser eleito deputado, passa a ter uma relação ambígua com Riobaldo. Ao mesmo tempo em que Riobaldo é professor "de letras e números" de Zé Bebelo, este ensina a Riobaldo sobre os meandros do "sertões das gerais" (sul da Bahia, norte de Minas Gerais e norte e nordeste de Goiás).

Após temporada acompanhando Zé Bebelo, Riobaldo percebe que seu lugar é, desde que conheceu Joca Ramiro, junto aos jagunços, que, ironicamente, tanto perseguia. Resolve, então, desertar e seguir o rastro dos homens de Joca Ramiro.

Nessas idas e vindas, reencontra uma personagem que conheceu na infância num episódio que é marco narrativo da obra: conhecido pelos jagunços como Reinaldo, apresenta-se a Riobaldo como Diadorim. O narrador reconhece que existe entre ele e Diadorim uma relação diferente da que se podia haver entre os jagunços. É ele que introduz Riobaldo ao bando de Joca Ramiro.

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