domingo, 12 de novembro de 2017

O tempo e o vento

Esta é a obra magna de Erico Verissimo, autor gaúcho cujo nome não tem acento, mas que tem assento definitivo na história da literatura brasileira como um dos nossos maiores escritores. A história deste livro, que é uma mescla de ficção e realidade, começa no ano de 1895, com a guerra entre republicanos (pica-paus) e federalistas (maragatos), com o cerco da família Terra-Cambará (republicanos) pela família Amaral (federalistas), que termina sendo vencida pelos republicanos. Depois volta para o ano de 1775, com as missões religiosas espanholas de catequisação indígena no sul do Brasil, em que se destaca o místico Pedro Missioneiro, filho de uma índia com um bandeirante, por quem Ana Terra se apaixonará, nesta estória que retrata a alma gaúcha, a história do Rio Grande do Sul e, em última instância, do Brasil. Esta coletânea, O Tempo e o Vento, é composta por sete volumes que formam uma trilogia: O Continente (vols. 1e 2, que diz respeito à conquista da terra e à formação da família, com seus valores sólidos), O Retrato (vols. 3 e 4, que constituem a fase do individualismo, expresso no quadro com a pintura do capitão Rodrigo, na parede do sobrado), e, por fim, O Arquipélago (que retrata a desagregação total do continente e da família e que se encerra nos anos de 1945, com o Estado Novo, no governo de Getúlio Vargas). Considerando o recuo ao período das missões jesuítas, de 1775, até 1945, são cerca de 200 anos de história do Brasil, romanceadas por este grande escritor! Seu filho, Luis Fernando Verissimo, disse que o seu pai levou 15 anos para escrever essa obra, repleta de personagens marcantes e inesquecíveis, cuja primeira parte (O Continente) foi transformada em minissérie, em 1985, e em filme, no ano de 2013. As adaptações ficaram muito boas, mas não se comparam ao prazer e à profundidade de ler a história expressa nesta obra magistral! Sobre o autor, destaca-se que Erico Verissimo sempre foi um pacifista, mesmo ao retratar guerras, e esta história, que se destaca a bravura masculina, em especial do gaúcho, é contada sobretudo a partir de mulheres fortes, como Ana Terra e sua neta Bibiana, que são peças chave na resistência e permanência da família! Este não é um livro regionalista, como o eram os livros brasileiros da década de 30, em que imperava uma linguagem e uma ambientação mais restritos e caricaturais. Esta série tem a sua fase rural, no sul do país, e depois urbana, na capital federal, à época no Rio de Janeiro. Aqui as personagens são humanas, universais e falhos, com defeitos e qualidades que oscilam. As formas narrativas e os períodos retratados também oscilam. O que não oscila é a qualidade da prosa de Erico Verissimo, a qual, nesta coletânea, traz a sua expressão máxima!
 

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